1982 a Turma Maria
Quitéria estava pronta para atuar na PMERJ, com uma missão para além do
policiamento ostensivo. Em breve estaríamos nas prateleiras de lojas de
souvenir para o encantamento da sociedade carioca. Éramos mulheres pioneiras
e tínhamos na nossa feminilidade a “obrigação” de mudar a imagem de uma
Instituição essencialmente masculina, com elevada percepção de uma Corporação
“opressora”, “força bruta”, braço do Regime que vigorava a época. Então,
colocam-se nas ruas do Rio, nos pontos turísticos, pontos de grande
visibilidade a delicadeza, a sensibilidade, a educação mais refinada, a
representação da Mãe para amenizar os gritos sombrios de uma fase complexa e
fortemente representativa do combate.
Lembro-me, como se fosse hoje, do dia da distribuição
para as Unidades que nos receberia. Não sabíamos dos critérios para essa
distribuição, mas aos poucos os caminhos traçados foram se iluminando, as
coisas tomando forma e se posicionando aos nossos olhos.
Fui designada para o 13º Batalhão de Polícia Militar
(BPM). Comigo estavam Janice, Saádia, Auxiliadora, Joana, Adalgiza, Maristela,
Irani, Sônia , Sheila e Zilda.
Hora da partida... olhamos o 2º BPM com a dor de quem
deixa os pais para trás (Pacheco, Egberto, Antunes, Siston). Um micro bem
antigo, parecido com as extintas lotações, nos esperava, enquanto chorávamos
abraçadas. Não queríamos ir, pois sabíamos mais ou menos o que nos esperava...
o temor daquela Praça Tiradentes nos abalava, o cenário de prostituição e pederastia
nos inquietava.
Entramos no micro em prantos, o Oficial que nos
acompanhava, naquele momento, não sabia mais o que falar, o que fazer para nos
tirar daquele estado de comoção.
Aos poucos o choro foi cedendo lugar a um silêncio
assustador, seguíamos o trajeto Botafogo – Praça Tiradentes como se
estivéssemos nos dirigindo a um enterro. O enterro dos nossos sonhos, quem
poderia saber!?
Enfim chegamos ao famoso Treze. Fomos apresentadas ao
Comandante CEL PM Back pelo MAJ PM Sardinha que já se mostrava cansado de
“aturar” tanta choradeira!
Após a apresentação formal ao CMT da Unidade e seu staff, o MAJ Sardinha nos apresentou as
instalações da OPM e, por fim, nos encaminhou ao nosso alojamento.
Não foi por acaso que ele deixou para o final! Naquele
instante, que nos pareceu um instante mágico, sorrisos desenharam novos
contornos em nossos rostos. Rosas vermelhas tomavam todo espaço, perfumando ao
ambiente e nos dando boas-vindas, com a sensibilidade daquele Oficial (MAJ
Sardinha) que de pronto recebeu nosso abraço coletivo e conquistou o título de
nosso “Anjo da Guarda”.
O 13º BPM foi minha segunda casa por alguns anos, ali fiz
muitos amigos, aprendi a ser policial preservando minha essência feminina,
apesar de ter que lidar com situações degradantes para outras tantas mulheres
que faziam da Praça Tiradentes também o seu lugar de “trabalho”. Ali na Praça
aprendi conceitos e rompi velhos preconceitos.
Experimentei grandes momentos de aprendizado, alegrias
compartilhadas como o casamento da Zilda (minha filha foi a Daminha) e o
casamento do CAP Xavier. E em tudo isso a presença marcante do nosso grande
líder e amigo Sardinha!
Hoje, depois de 36 anos, deixo que minhas memórias do 13º
BPM aflorem, talvez por não ter criado a oportunidade de falar dessas vivências
e como elas me emocionam, da magia transformadora que aquelas dez meninas
experimentaram quando a porta do alojamento se abriu e fica assim minha
homenagem, in memoriam, ao Oficial,
amigo pessoal e grande profissional Sr CEL PM SARDINHA.
Toda mulher gosta de rosas!!!
Obs.: Nas minhas pequenas falhas de memória recorri e agora agradeço:
Saádia Bastos Targiano
Margarida Cruz