segunda-feira, 14 de maio de 2018

ENTRE O VULCABRAS E O SCARPIN - UMA DECISÃO PIONEIRA



PMERJ: 209 ANOS “SERVINDO E PROTEGENDO”

Hoje, 13 de maio de 2018, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) comemora 209 anos “Servindo e Protegendo”. Presto minha continência e manifesto meu amor por ela.
Apesar de nossa Sociedade parecer nos ignorar, vale resgatar momentos incríveis de mulheres pioneiras que há 36 anos sentem orgulho de feitos que circulam minha mente e que tenho a honra de compartilhar como uma maneira de homenagear essa Instituição que me ensinou a ser crítica, não aceitar com facilidade proposições de uma cultura até então pautada na vivência masculina.   

ENTRE O VULCABRAS E O SCARPIN: UMA DECISÃO PIONEIRA
Sapatos o que me trazem à memória? Jovens mulheres que, enfrentando o pioneirismo de uma área antes explorada apenas por homens, buscavam o espaço, conquistavam aos poucos a mudança da cultura masculina e que desejavam cumprir a missão sem perder de vista a essência do “ser mulher”.
O orgulho de ser pioneira brotava e explodia em cada uma com a proximidade do nosso primeiro Desfile Militar de 7 de setembro. Nossa farda rendeu muitas visitas do alfaiate, tira medidas, experimenta, recorta, aumenta e tudo isso supervisionado por duas madrinhas – Dona Jussara e Dona Edite.
Já às vésperas do desfile chegaram os sapatos. Entramos em forma, cada Pelotão com seus Comandantes e fomos direcionadas ao almoxarifado e a cada entrega os Pelotões se desfaziam e assim surgia um burburinho, olhares de decepção, uma mistura de sentimentos que só fazia aumentar o barulho... Era o momento de não sufocar nossas vozes, precisávamos demonstrar que o sapato não agradava, não combinava com nossa expectativa de glamour, de elegância. A falta de tato com as chamadas “coisas de mulher” fizeram nossos Mestres comprarem o horroroso VULCABRAS, com cadarço e sem um pingo de bom gosto!
O burburinho aumentando a cada entrega, nossos Comandantes argumentavam, diziam da importância do conforto e a segurança de ser um sapato amarrado. Mas nada nos convencia, o layout da farda ficaria com um tom muito masculinizado e não queríamos assim. Nossa opção era o clássico scarpin.
Precisávamos decidir com urgência tendo em vista a proximidade da data do Desfile! Óh  dúvida cruel... Ficamos entre o Vulcabrás com cadarço e o clássico Scarpin!



                                                                                                 
Apesar de todas as orientações, fizemos até pirraça, mas é claro que escolhemos o Scarpin.
E lá fomos nós! Saímos do CFAP ainda na madrugada e às 05:00h já estávamos no local de concentração da tropa, entrada em forma na posição de Desfile e a longa espera.
Em pouco tempo começamos a sentir as consequências de nossa escolha! Mas a garra mantida, afinal era nossa primeira apresentação em público. A responsabilidade de fazer acontecer e fazer bonito nos dava força!
Desfile iniciado, hora de fazer valer tudo que tínhamos aprendido com nossos Mestres. Em cada coração o firme propósito de marcar para sempre aquele momento e o bumbo anunciava que era chegada a hora de acertar o passo.
Logo no início começamos a sentir o peso da decisão: sapatos que saiam do pé e voavam, colegas pegavam e os entregavam as suas donas, retomadas várias vezes ao lugar na formação por conta do “scarpin” que massacrava, que apertava, que engolia nossos pés e maltratava nossos sonhos. Parecia o caos, mas a luta seguia em frente e não nos faltou determinação.
Memória ímpar, pois que tomadas pela emoção de representar nossa Corporação e o pioneirismo da Turma Maria Quitéria, lembro que encontramos nosso jeitinho de acertar o pé no bumbo sem perder os sapatos, ou melhor, sem perder a elegância.
Passamos com garbo e do Palanque as autoridades aplaudiram, o público nos saudando com sorrisos, curiosidade e alegria contagiante. E nós éramos pura emoção!
Fomos com tudo! Mulheres de fibra, pioneiras, guerreiras! O toque feminino que iluminava aquele Desfile.


Terminado o desfile, poucos souberam ou testemunharam o que um scarpin pode fazer. Do glamour, elegância de um clássico, nos restou pés que sangravam, bolhas imensas e a dor suportável de quem cumprira a missão com mérito!
Em 2012, a PMERJ comemorou os 30 anos da presença feminina em seus quadros, nos homenageando com a forte imagem de um Desfile Militar que ficou para sempre na História!

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*      Por: Tania Loos
*      Colaboradoras: Margarete Angel e Marisa Franca



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