PMERJ:
209 ANOS “SERVINDO E PROTEGENDO”
Hoje, 13 de maio de
2018, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) comemora 209 anos
“Servindo e Protegendo”. Presto minha continência e manifesto meu amor por ela.
Apesar de nossa
Sociedade parecer nos ignorar, vale resgatar momentos incríveis de mulheres
pioneiras que há 36 anos sentem orgulho de feitos que circulam minha mente e
que tenho a honra de compartilhar como uma maneira de homenagear essa
Instituição que me ensinou a ser crítica, não aceitar com facilidade
proposições de uma cultura até então pautada na vivência masculina.
ENTRE
O VULCABRAS E O SCARPIN: UMA DECISÃO PIONEIRA
Sapatos o que me trazem
à memória? Jovens mulheres que, enfrentando o pioneirismo de uma área antes
explorada apenas por homens, buscavam o espaço, conquistavam aos poucos a
mudança da cultura masculina e que desejavam cumprir a missão sem perder de
vista a essência do “ser mulher”.
O orgulho de ser
pioneira brotava e explodia em cada uma com a proximidade do nosso primeiro
Desfile Militar de 7 de setembro. Nossa farda rendeu muitas visitas do
alfaiate, tira medidas, experimenta, recorta, aumenta e tudo isso
supervisionado por duas madrinhas – Dona Jussara e Dona Edite.
Já às vésperas do
desfile chegaram os sapatos. Entramos em forma, cada Pelotão com seus
Comandantes e fomos direcionadas ao almoxarifado e a cada entrega os Pelotões se
desfaziam e assim surgia um burburinho, olhares de decepção, uma mistura de
sentimentos que só fazia aumentar o barulho... Era o momento de não sufocar nossas
vozes, precisávamos demonstrar que o sapato não agradava, não combinava com
nossa expectativa de glamour, de elegância. A falta de tato com as chamadas
“coisas de mulher” fizeram nossos Mestres comprarem o horroroso VULCABRAS, com
cadarço e sem um pingo de bom gosto!
O burburinho aumentando
a cada entrega, nossos Comandantes argumentavam, diziam da importância do conforto
e a segurança de ser um sapato amarrado. Mas nada nos convencia, o layout da
farda ficaria com um tom muito masculinizado e não queríamos assim. Nossa opção
era o clássico scarpin.
Precisávamos decidir
com urgência tendo em vista a proximidade da data do Desfile! Óh dúvida cruel... Ficamos entre o Vulcabrás com
cadarço e o clássico Scarpin!
Apesar de todas as
orientações, fizemos até pirraça, mas é claro que escolhemos o Scarpin.
E lá fomos nós! Saímos
do CFAP ainda na madrugada e às 05:00h já estávamos no local de concentração da
tropa, entrada em forma na posição de Desfile e a longa espera.
Em pouco tempo
começamos a sentir as consequências de nossa escolha! Mas a garra mantida,
afinal era nossa primeira apresentação em público. A responsabilidade de fazer
acontecer e fazer bonito nos dava força!
Desfile iniciado, hora
de fazer valer tudo que tínhamos aprendido com nossos Mestres. Em cada coração
o firme propósito de marcar para sempre aquele momento e o bumbo anunciava que
era chegada a hora de acertar o passo.
Logo no início
começamos a sentir o peso da decisão: sapatos que saiam do pé e voavam, colegas
pegavam e os entregavam as suas donas, retomadas várias vezes ao lugar na formação
por conta do “scarpin” que massacrava, que apertava, que engolia nossos pés e
maltratava nossos sonhos. Parecia o caos, mas a luta seguia em frente e não nos
faltou determinação.
Memória ímpar, pois que
tomadas pela emoção de representar nossa Corporação e o pioneirismo da Turma
Maria Quitéria, lembro que encontramos nosso jeitinho de acertar o pé no bumbo
sem perder os sapatos, ou melhor, sem perder a elegância.
Passamos com garbo e do
Palanque as autoridades aplaudiram, o público nos saudando com sorrisos,
curiosidade e alegria contagiante. E nós éramos pura emoção!
Fomos com tudo!
Mulheres de fibra, pioneiras, guerreiras! O toque feminino que iluminava aquele
Desfile.
Terminado o desfile,
poucos souberam ou testemunharam o que um scarpin pode fazer. Do glamour,
elegância de um clássico, nos restou pés que sangravam, bolhas imensas e a dor
suportável de quem cumprira a missão com mérito!
Em 2012, a PMERJ
comemorou os 30 anos da presença feminina em seus quadros, nos homenageando com
a forte imagem de um Desfile Militar que ficou para sempre na História!
Por: Tania Loos
Colaboradoras: Margarete Angel e Marisa
Franca
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