domingo, 28 de março de 2010

Educação também dá meia-volta e avança!

Os absurdos continuam acontecendo, não é só na PMERJ que se dá meia-volta e avança (retrocede), leiam o testemunho da Professora Denise Vilardo...

"Uma verdadeira barbaridade!!

Caríssimos e caríssimas,

Começo nesse nosso espaço fazendo uma denúncia, e contando com esse valoroso grupo para me ajudar a divulgar o que vem acontecendo com as escolas municipais da cidade do Rio de Janeiro.

Finalmente, a SME/RJ está utilizando as verbas a ela destinada desde sempre. A Claudia Costin, como boa administradora que é, e já tendo tido experiência em outros cargos governamentais, inclusive na esfera federal, sabe direitinho onde o dinheiro está e tem captado literalmente tudo o que é possível captar. Mas...

Apesar de todos os avanços no campo administrativo que estão sendo realizados nessa gestão, a orientação pedagógica está uma verdadeira barafunda!

Dentre as inúmeras propostas de "salvação" que a SME/RJ anda apresentando aos professores, de maneira absolutamente arbitrária, está uma cartilha, baseada no método fônico ou fonético - muito utilizado nos anos 50/60 e que é condenado por todos os estudiosos do assunto, desde a década de 80.
As cartilhas chegaram para serem distribuídas para as escolas cujos alunos têm dificuldade na aprendizagem da leitura. É um projeto caro, encomendado a um Instituto chamado Alfa e Beto. Chama-se "Aprender a ler" e tem um livro suplementar, com pseudo histórias para os alunos.

Com essa cartilha, pretende-se alfabetizar, finalmente, as crianças... a justificativa é que, com os métodos anteriores, as crianças não obtiveram sucesso. Posso afirmar que a metodologia do ensino de alfabetização que era orientada aos professores nunca chegou a ser implantada efetivamente no nosso município - por motivos políticos.

Desde 2002, ainda na gestão do Prefeito César Maia, as capacitações em serviço para os professores da Rede Pública Municipal foram suspensas.

As atualizações para os professores foram retomadas no final de 2009, já na gestão do Eduardo Paes. Esse vácuo de 7 anos para o magistério foi fatal. Haja vista a pesquisa recentemente publicada, em que os professores culpam as famílias dos alunos pela não aprendizagem dos mesmos. (O pior é que a SME/RJ também acredita nisso uma vez que lançou uma "cartilha" para as mães - e somente elas - aprenderem a acompanhar os filhos em seus estudos. Isso é, no mínimo, grotesco...um dos conselhos dado às mães, é que tenham um local adequado em suas casas, para as crianças estudarem. Um local silencioso, com boa iluminação, boa ventilação e confortável...) Têm ideia de qual planeta vive quem escreveu isso vive?

Retrocedemos 20 anos no pensamento pedagógico dessa Rede.

Algumas outras propostas de salvação do ensino na Rede Pública, são, ainda, a volta da 2ª época e dos deveres de casa...

Voltando à cartilha de alfabetização, envio um dos textos para vocês verem, com algumas observações iniciais.

*Minha chinela amarela*
/"Olá, eu sou o Charles.
Eis a minha chinela.
Minha chinela é amarela.
Eu chamo minha chinela de Chaninha!

Chaninha vive no armário
De manhã, Chaninha sai do armário e vem para mim.
E Chaninha vem me ver, cheia de charme!

Eu saio ao sol, eu e a minha chinela...
Eu saio na rua...
Eu e a minha chinela.
Eu e a minha Chaninha! Lá vamos nós!

Às vezes, eu suo muito.
Eu suo na Chaninha.
Aí, ela cheira mal!
Uuuuu! Ela cheira a chulé!

Se dá chulé na Chaninha, mamãe leva e lava.
Mamãe lavou, lavou e a Chaninha furou.

Hum, a chinela é cheirosa afinal!
Chaninha é velha.
Mesmo assim ela é maravilhosa!"/

1 - Qualquer professor de Língua Portuguesa pode atestar que isso acima é quase um não-texto, porque possui débeis elementos básicos
de coesão, e baixíssimo nível de coerência. São quase frases soltas;
2 - costumamos dizer que esse tipo de não-texto imbeciliza os alunos;
3 - é também inadequado para a faixa etária a que está endereçado;
4 - não utilizamos chinelas no Rio de Janeiro;
5 - Charles é um nome, ah digamos... não brasileiro;
6 - e, Chaninha, na minha terra é... vocês sabem o que significa.

Sou profª da Rede Municipal há 32 anos e nunca vivenciei nada semelhante. Nunca a SME foi tão retrógrada, com atitudes tão conservadoras e tão inconsequente em seus atos.

A Claudia Costin tem uma mídia hiper forte com ela, que é excelente administradora, mas não entende bulhufas de Educação e nem a equipe que montou para assessorá-la. E os professores ah, digamos, mais conscientes, estão sem espaço pra contar suas histórias. Só aparece o que dá cartaz ao governo, e que está apenas na superfície.

Pra terminar, outra "história" tirada da cartilha:

*Zé e Zuza*

/"Zé amola seu mano Zuza.
- Ei, Zuza zonzo!
- Não amola, Zé!

Uma manhã, uma luz iluminou Zuza.
- O Zé não me amola mais!

Zuza assou uma massa de sal numa noz.
- Uma noz, mano Zuza! Eu amo noz! Ulalá!

E zás!
Ai, ai, ai!
Noz com sal?
Zuza amolou o Zé, ou não?

O Zuza não amolou.
- Amo noz! amo sal! Noz e sal, uau! Amei!

Ué, nem o sal na noz amola o Zé!
- Ô, mano Zé lelé!
- Ê, miolo mole!"/

Parece sacanagem? E é!!! Sacanagem com os meninos e meninas das escolas públicas municipais do Rio de Janeiro.

Obrigada pela atenção

Denise Vilardo"

Compete a todos nós EDUCADORES nos posicionarmos contra os desmandos que acontecem, e, de vez, mudarmos a atitude "sair da passividade, do conformismo" e partir para a pro-atividade em prol de uma Educação de Qualidade para TODOS.
Tania Loos



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sábado, 20 de março de 2010

DISCURSO E PODER

Saudações aos amigos!

Acessando meus blogs favoritos observei que, finalmente, meu amigo Wanderby voltou a postar e com as mesmas características de sempre: inteligência, bom senso, alta capacidade de comunicar idéias e, sobretudo, gerando empatia com seus seguidores.

Lendo algumas postagens do Wanderby e outras do CEL Paul lembrei-me de trechos do livro que estou terminando a leitura: Discurso e Poder - Teun A. vanDijk.

O livro se reporta aos ECD (Estudos Críticos do Discurso) tratando de problemas sociais complexos para os quais o autor aponta a necessidade de se desenvolver ou aplicar teorias e métodos complexos de várias disciplinas e, ao mesmo tempo, satisfazer os critérios sociais relevantes para grupos dominados. E é aí que vejo dois incríveis "personagens" da nossa história (Wanderby e Paul) que não se submetem ao Poder Dominante, não se rendem ou se deixam controlar pelo poder institucional que nos quer "calar a boca".

Assim, observem o que diz o autor sobre discurso e reprodução do Poder Social:

Tradicionalmente, controle é definido como controle sobre as ações de outros. Se esse controle se dá também no interesse daqueles que exercem tal poder, e contra os interesses daqueles que são controlados, podemos falar de abuso de poder. Se as ações envolvidas são ações comunicativas, isto é, o discurso, então podemos, de forma mais específica, tratar do controle sobre o discurso de outros, que é uma das maneiras óbvias de como o discurso e o poder estão relacionados: pessoas não são livres para falar ou escrever quando, onde, para quem, sobre o que ou como elas querem, mas são parcial ou totalmente controladas pelos outros poderosos, tais como o Estado, a polícia, a mídia ou uma empresa interessada na supressão da liberdade da escrita e da fala (tipicamente crítica). Ou, ao contrário, elas têm que falar ou escrever como são mandadas a falar ou escrever.

Felizmente esse controle, o exercício da violência simbólica (instituída para tirar a voz de quem ousa dizer verdades) não nos afeta, precisamos de mais Wanderby's, Paul's, Luiz Alexandre's e tantos quantos quiserem manifestar-se contra o Poder Dominante, porque somente assim conseguiremos a transformação social desejada.

É livre a manifestação do pensamento, por isso rendo minha homenagem ao autor do livro que está clarificando minha mente e aos ilustres companheiros. Rogo que continuem, não se deixem levar pelo discurso dominante que, paralelamente ao controle da fala e da escrita, exerce abuso de poder quando quer manipular mentes. Dessa forma quero registrar, ainda, que, segundo meu entendimento, a força do Poder Dominante já cooptou pessoas, agindo de modo semelhante aos americanos: "se eu não posso calar essa voz que essa voz fale o que eu quero que seja dito"...

Espero postar, em breve, outros recortes do livro, especialmente, os relacionados à intervenção do Poder Dominante no Discurso Midiático.

Tania Loos (manifestando-se livremente, sem medo de ser feliz)