domingo, 29 de abril de 2012

PARA QUE SERVE UM COPINHO DESCARTÁVEL DE CAFÉ?


A FLAGRANTE CONTRADIÇÃO NAS RELAÇÕES DE TRABALHO NUMA INSTITUIÇÃO 

Muitos, como minha querida colega Deise Candreva, responderão: para beber o café e descartar o copinho, ora.
Sim, seria essa a lógica!
Algumas pessoas, ditas paranormais, em outras culturas, fazem previsões com a borra do café no fundo de recipientes, entretanto, nunca soube que usassem copinhos descartáveis de café para tal.
Também já observei que o copinho descartável de café pode ser como BOMBRIL e ter 1001 utilidades como servir de organizador para pequenos objetos, separador de medicamentos (comprimidos) para distribuição aos pacientes de emergências e enfermarias superlotadas, dosador, base para trabalhos artesanais, doce de colher, nas Escolas de Educação Infantil tem um relevante papel na primeira experiência científica das crianças que poderão acompanhar a evolução da vida de um pé de feijão etc.
Mas, há 30 anos, o copinho descartável de café tinha uma utilização inusitada: a ele todo “poder” de decidir pela permanência ou não da mulher na carreira policial militar no Rio de Janeiro.
Numa flagrante contradição da Instituição disposta a ter a força do trabalho da mulher, mensalmente e aleatoriamente, o copinho descartável de café nos era entregue para coletar o “xixi” que deveria ser negativo (-) para gravidez.
Entender tal prática era difícil, porém não podíamos (?) questioná-la. O período era ainda conturbado, o ditado popular da época era incisivo “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.
Éramos jovens, sonhando com o pioneirismo que nos fazia inertes frente às questões que suscitassem a possibilidade do entendimento de “indisciplina”. Não havíamos desenvolvido plenamente nossa capacidade crítica acerca da publicidade de situações discriminatórias, excludentes e, sobretudo, atentatórias aos direitos da mulher trabalhadora trabalhadora (garantidos desde a CLT – Art. 391. Não constitui justo motivo para a rescisão do contrato de trabalho da mulher o fato de haver contraído matrimônio ou de encontrar-se em estado de gravidez.), mas a Lei não se aplicaria em nosso caso (?).
Mais parecia que ser policial reivindicava, de todas nós, a renúncia aos paradigmas da modernidade, aos avanços obtidos por nossas precursoras na história da ocupação de novos espaços pela mulher.
Pois foi assim que copinhos descartáveis de café assumiram mais uma identidade utilitária: receptores de urina, que, nos dias de hoje, posso chamar de “xixi” amargo da oposição aos Direitos Constitucionais que livram a mulher de certos constrangimentos.
Tania Loos
Em, 29/ABR/2012

A ÉTICA MANIQUEÍSTA

Há muito deixei de acreditar em ética maniqueísta.

Luto contra a ética do "não". É preciso romper com a hipocrisia, com a chamada ética do certo ou errado.

"Não matarás"! Isso é pouco...

Por: Tania Loos


sexta-feira, 27 de abril de 2012

MULHER PIONEIRA - LOCOMOTIVA 36 MIL


3 LETRAS E UMA QUESTÃO DE GÊNERO

Já fui chamada de louca, guerrilheira, porém prefiro dizer que não sou assim, sou tão somente firme nos meus propósitos, exigente no cumprimento de direitos e deveres e uma guerreira-sonhadora.
Assim, num dos meus delírios ideológicos, insone, resolvi contar um fato que havia se perdido no tempo e me foi trazido à memória por minha amiga Marta, em 17 de março de 2012 – quando saíamos do evento em comemoração aos 30 anos da Turma Maria Quitéria (pioneiras na Força Policial do Rio de Janeiro).
Gente! Como uma sigla, apenas três letrinhas, tinha o poder de alterar o curso de uma história?
Pois é, apenas três letrinhas, no ano de 1983, impediram que nós mulheres realizássemos as provas para o concurso que estávamos inscritas – o CFC/QPMP-6. Isso mesmo! Fomos impedidas, cerceadas do direito de fazer as provas para o Curso de Formação de Cabos do Quadro de Saúde por sermos Soldados Policiais Militares FEM.
Éramos umas dez, com formação específica, capacitadas tecnicamente para o exercício das funções, inscritas para o certame, mas éramos FEM e, de acordo com as informações que nos passaram trinta minutos antes de a prova ser iniciada, o concurso se destinava aos soldados Policiais Militares (o edital também não fazia referência ao detalhe de gênero – nele não se inseria nenhuma observação que especificasse o gênero masculino, não havia letrinhas discriminatórias).
Dizem que contra a força não há argumentos, mas também é certo que o Direito não ampara aos que dormem.
Inaceitável... 3 letrinhas não poderiam ter a força de nos barrar e modificar a história que ainda escreveríamos!
Como olharíamos para a sociedade carioca? Com a cara de quem se acomodou ante um ato institucional “não pensado” e permeado pelo discurso hegemônico da distinção de gênero?
Claro que não!!!
Tentamos juntas, de todas as formas possíveis, reverter ali mesmo a situação, mas não conseguimos êxito na empreitada, apesar de os Oficiais responsáveis pela aplicação das provas mostrarem-se simpáticos aos nossos argumentos. Era sabido: ordem dada é ordem cumprida, não havia chance de mudança naquele momento tenso.
Saí do CFAP direto para o QG e apresentei ao Diretor da DEI toda nossa indignação fundamentando minhas razões e pleiteando a tão sonhada igualdade, contudo sem perder de vista os princípios da hierarquia e disciplina.
Minha voz encontrou eco e no mesmo dia as provas realizadas pelos homens foram anuladas, o concurso adiado aguardando nova publicação em BOL PM. Pela primeira vez, na PMERJ, uma mulher iniciava, mesmo sem plena consciência da importância futura para o quadro feminino, um movimento de igualdade, de valorização da força do trabalho feminino na Instituição. Mais tarde, esse fato serviria de parâmetro para novas demandas.
Inaugurou-se nesse dia uma nova cultura na Caserna e eu no meu mergulho interior sinto-me, hoje, mais forte para continuar contando histórias!

Tania Loos 
Em, 27ABR2012

sábado, 21 de abril de 2012

Para refletir!

Para refletir!