quinta-feira, 11 de outubro de 2018

TODA MULHER GOSTA DE ROSAS...




1982 a Turma Maria Quitéria estava pronta para atuar na PMERJ, com uma missão para além do policiamento ostensivo. Em breve estaríamos nas prateleiras de lojas de souvenir para o encantamento da sociedade carioca. Éramos mulheres pioneiras e tínhamos na nossa feminilidade a “obrigação” de mudar a imagem de uma Instituição essencialmente masculina, com elevada percepção de uma Corporação “opressora”, “força bruta”, braço do Regime que vigorava a época. Então, colocam-se nas ruas do Rio, nos pontos turísticos, pontos de grande visibilidade a delicadeza, a sensibilidade, a educação mais refinada, a representação da Mãe para amenizar os gritos sombrios de uma fase complexa e fortemente representativa do combate.
            Lembro-me, como se fosse hoje, do dia da distribuição para as Unidades que nos receberia. Não sabíamos dos critérios para essa distribuição, mas aos poucos os caminhos traçados foram se iluminando, as coisas tomando forma e se posicionando aos nossos olhos.
            Fui designada para o 13º Batalhão de Polícia Militar (BPM). Comigo estavam Janice, Saádia, Auxiliadora, Joana, Adalgiza, Maristela, Irani, Sônia , Sheila e Zilda.
            Hora da partida... olhamos o 2º BPM com a dor de quem deixa os pais para trás (Pacheco, Egberto, Antunes, Siston). Um micro bem antigo, parecido com as extintas lotações, nos esperava, enquanto chorávamos abraçadas. Não queríamos ir, pois sabíamos mais ou menos o que nos esperava... o temor daquela Praça Tiradentes nos abalava, o cenário de prostituição e pederastia nos inquietava.
            Entramos no micro em prantos, o Oficial que nos acompanhava, naquele momento, não sabia mais o que falar, o que fazer para nos tirar daquele estado de comoção.
            Aos poucos o choro foi cedendo lugar a um silêncio assustador, seguíamos o trajeto Botafogo – Praça Tiradentes como se estivéssemos nos dirigindo a um enterro. O enterro dos nossos sonhos, quem poderia saber!?
            Enfim chegamos ao famoso Treze. Fomos apresentadas ao Comandante CEL PM Back pelo MAJ PM Sardinha que já se mostrava cansado de “aturar” tanta choradeira!
            Após a apresentação formal ao CMT da Unidade e seu staff, o MAJ Sardinha nos apresentou as instalações da OPM e, por fim, nos encaminhou ao nosso alojamento.
            Não foi por acaso que ele deixou para o final! Naquele instante, que nos pareceu um instante mágico, sorrisos desenharam novos contornos em nossos rostos. Rosas vermelhas tomavam todo espaço, perfumando ao ambiente e nos dando boas-vindas, com a sensibilidade daquele Oficial (MAJ Sardinha) que de pronto recebeu nosso abraço coletivo e conquistou o título de nosso “Anjo da Guarda”.
            O 13º BPM foi minha segunda casa por alguns anos, ali fiz muitos amigos, aprendi a ser policial preservando minha essência feminina, apesar de ter que lidar com situações degradantes para outras tantas mulheres que faziam da Praça Tiradentes também o seu lugar de “trabalho”. Ali na Praça aprendi conceitos e rompi velhos preconceitos.
            Experimentei grandes momentos de aprendizado, alegrias compartilhadas como o casamento da Zilda (minha filha foi a Daminha) e o casamento do CAP Xavier. E em tudo isso a presença marcante do nosso grande líder e amigo Sardinha!
            Hoje, depois de 36 anos, deixo que minhas memórias do 13º BPM aflorem, talvez por não ter criado a oportunidade de falar dessas vivências e como elas me emocionam, da magia transformadora que aquelas dez meninas experimentaram quando a porta do alojamento se abriu e fica assim minha homenagem, in memoriam, ao Oficial, amigo pessoal e grande profissional Sr CEL PM SARDINHA.
            Toda mulher gosta de rosas!!!



Obs.: Nas minhas pequenas falhas de memória recorri e agora agradeço:
Saádia Bastos Targiano
Margarida Cruz

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