Os anos 2000 foram
expressivos para a expansão do PROERD em território nacional. A Coordenação de
um Curso de Formação de Instrutores, no estado de Sergipe, me foi confiada,
embarcaria para Aracaju num sábado pela manhã para os ajustes finais e dar
início ao Curso na segunda-feira.
Malas prontas, material
revisado e equipe de Mentores preparada.
Mas... minha bebê
adoeceu e foi internada às pressas, naquela tarde de sexta-feira, com
diagnóstico de derrame pleural. Recebi a notícia e, imediatamente, fui procurar
meu Comandante Geral para comunicar meu impedimento de viajar e que a
coordenação do curso (ao menos na primeira semana) ficaria sob a
responsabilidade da SUBTEN Master.
Meu telefone era, ainda, o único elo entre minha responsabilidade profissional e a preocupação com o estado de saúde de minha filhinha. Avisei que qualquer procedimento mais invasivo só poderia ser feito após minha chegada ao Hospital (antigo Serv Baby).
Meu telefone era, ainda, o único elo entre minha responsabilidade profissional e a preocupação com o estado de saúde de minha filhinha. Avisei que qualquer procedimento mais invasivo só poderia ser feito após minha chegada ao Hospital (antigo Serv Baby).
Tudo isso já próximo do
final do expediente, eram mais ou menos 16:30h quando fui até o Gabinete do Sr.
Comandante Geral e informei ao Ajudante de Ordens minha urgência de contato com
nosso 01. Fiquei ali esperando, torcendo e retorcendo os dedos, visivelmente
preocupada/angustiada; o Comandante estava em reunião na sala do EMG com
oficiais do seu staff.
Permaneci naquela
antessala até mais ou menos 21:00h revezando o cafezinho e um cigarro até que
já estava pronta para jogar a toalha para correr para o hospital e saber o que
realmente estava acontecendo com minha filha.
Minutos depois vi
quando o CMT GERAL saiu da sala de reunião acompanhado por uma fila de oficiais
superiores. Ele passou por mim e, como sempre, acenou com a cabeça respondendo
minha continência. Eu estava estática, mas despertei e segurei no braço do Sr
CEL PM “S” e pedi que ele me ajudasse, pois eu precisava falar com urgência com
o Comandante já que não embarcaria, conforme a publicação em BOL PM, para
Aracaju no dia seguinte.
O referido oficial não
me deu resposta apenas me olhou... um olhar de desprezo, daqueles que nos
deixam desconcertadas e com aquela sensação de “menos-valia”.
Todos aqueles oficiais
entraram no Gabinete do Comandante Geral e eu permaneci na antessala,
provavelmente com cara de idiota esperando que o “S” informaria ao Comandante
sobre meu pedido e eu seria chamada para fazer a coisa certa, mesmo que em
detrimento das horas de espera dos médicos para prestarem o devido socorro a
minha filha (a criança precisava drenar o pequeno pulmãozinho).
O Ajudante de Ordens se
sensibilizou e me mandou embora (já por volta de 22:30h), me acalmando e
assumindo o compromisso de informar todos os fatos ao Comandante Geral.
Fui correndo para o
Hospital e tomando ciência do quadro clínico da minha menina autorizei a
realização de todos os procedimentos necessários, sabendo que as primeiras 48
horas eram decisivas para reverter o quadro.
...
Na segunda feira pela
manhã recebi (via tel) um “plano de chamada”, deveria me apresentar
imediatamente ao Sr CEL “S”. Acredito que ainda estava usando a máscara de
idiota e sem entender “por..” nenhuma pedi que a amiga Sheila ficasse com
Isabelle no Hospital enquanto o Nunes me levava para o QG para cumprimento da
ordem.
Cheguei por volta de
11h e levei um “chá de cadeira” até mais ou menos 17h (hoje eu entendo bem o
que é abuso de poder na Corporação), quando fui “convidada” a entrar na sala
daquele Diretor para o grandioso confronto do olho no olho!
Era a “hora do pato”
que foi presenciada e testemunhada pelo sensato MAJ (à época) “D”.
Nossa! É impossível
esquecer! Aquele CEL começou me perguntando em tom agressivo e histérico: “Onde
foi que você aprendeu que pode segurar o braço de um oficial superior e o
inquerir na ala do QG quando em deslocamento com o CMT GERAL?” e seguiu
gritando, dizendo que uma viagem não poderia me deixar tão inquieta e “abusada”
e seguiu... falou... falou... falou... sempre em tom áspero (penso que ele nem
respirava pelo simples prazer de me mostrar seu poderio de palavras impregnadas
de vaidades).
Confesso que ante os
questionamentos troquei de máscara, dei a de “idiota” para o CEL grosso e mal
educado e comecei a usar a máscara do clown enquanto o mesmo destilava seu
ódio, seu veneno, seu ridículo senso de autoridade e “dono do poder”.
Ouvi todos os
impropérios em silêncio, as lágrimas começaram a rolar em meu rosto e junto
delas rolava abaixo todo respeito, admiração e afeto que eu sentia por aquele
CEL “S”.
O então MAJ “D”
assistia àquela cena grotesca sem poder fazer qualquer intervenção, mantinha-se
em silêncio, às vezes seu olhar cruzava o meu e eu podia sentir que ele
reprovava aquela conduta vinda de um oficial da nossa gloriosa PMERJ. Seu olhar
cabisbaixo demonstrava sua oposição ao tratamento vergonhoso que aquele CEL
estava me dispensando.
Sem poder responder,
pois aprendi que o subordinado ouve sem questionar a ignorância de seu superior
(hoje sei o que é assédio moral), eu apenas chorava, mas sem perder a pose de
militar resignada porque aquele mesmo CEL havia me ensinado que eu explicaria
os motivos que me levaram a segurar seu braço e fazer um pedido de prioridade,
mas não justificaria. Assim é o que se diz na Caserna: “Explica, mas não
justifica.”!
Quando o Id, com seu
ego inflado, terminou seu show e, finalmente, se calou perguntei se poderia
falar e o mesmo autorizou.
Tirei então a máscara
do Clown e com a máscara de mãe em desespero e militar ajustada aos preceitos
da hierarquia e disciplina o massacrei com palavras firmes permeadas pelo choro
já convulsivante. Comecei afirmando que o mesmo estava certo, que em momento
algum da minha formação me foi ensinado que poderia sentir afeto, consideração
e admiração por um oficial superior ao ponto de me sentir à vontade para
segurar-lhe o braço para pedir um espaço de prioridade por uma causa mais que justa
- a de uma mãe desesperada com o quadro clínico grave apresentado por uma
criança de apenas um aninho. Entre lágrimas de dor e de ódio fui pontuando os
reais motivos que me levaram a segurar seu braço e quase implorar sua ajuda. Sim
pedir ajuda a um oficial que havia aprendido a respeitar e admirar porque o
enxergava como um grande “Amigo” (hoje sei o quanto é difícil poder considerar
qualquer um como amigo).
Já em prantos e para
não perder o equilíbrio encerrei meu “discurso” pedindo permissão para me
retirar porque precisava voltar ao hospital para cuidar de minha filha.
Permissão concedida
esqueci que era oficial prestei continência, “colei os cascos” e dei meia
volta, saí deixando para trás aquele oficial com sua cara de “bun..” e nunca
mais o vi com a devida distinção que antes merecia.
De minha boca o Sr
Comandante Geral nunca soube desse episódio misógino, deprimente e covarde!
Anos depois, já fazendo o CAO, o CEL “D” lembrou-se desse dia e me demonstrou
sua sensibilidade e caráter avesso ao ato preconceituoso e vaidoso desse Sr CEL
“S”.
Creio que os três
oficiais dentro daquela sala aprenderam algumas lições para a vida,
ultrapassando os muros do QG e guardando, cada um a seu modo, esse dia em suas memórias
para reescrever em seus Livros de Memórias.
Tania Loos
Em, 22 de setembro de
2018.